Neopentecostalismo à Brasileira: As origens, doutrinas e contradições das Igrejas da mídia


Nos últimos 40 anos, o cenário religioso brasileiro foi profundamente impactado por um movimento que cresceu com velocidade impressionante, dominando espaços na televisão, no rádio, nas redes sociais e, sobretudo, nos corações de milhões de fiéis: o neopentecostalismo.

Mas afinal, de onde vêm essas igrejas tão populares, quem são seus fundadores e o que pregam de fato?

Tudo começou com Edir Macedo

O ponto de partida desse movimento é o carioca Edir Macedo, que iniciou sua jornada espiritual na Igreja Nova Vida, ligada ao bispo Macalister — uma igreja de linha pentecostal clássica. Com apenas 21 anos, Macedo foi consagrado pastor na Casa da Bênção. Pouco tempo depois, rompe com a instituição e, em 1977, funda a Igreja Universal do Reino de Deus ao lado de dois pastores: Carlos Rodrigues (de quem pouco se fala hoje) e seu então cunhado R.R. Soares.

Três anos depois, Macedo e Soares se desentendem. Soares sai e funda a Igreja Internacional da Graça de Deus. Anos depois, outro nome ganha notoriedade: Valdemiro Santiago, obreiro de destaque na Universal, é expulso em 1998 e decide abrir sua própria igreja — a Mundial do Poder de Deus. Como se não bastasse, em 2006, ocorre mais uma ruptura: Agenor Duque, então bispo da Mundial, rompe com Valdemiro e funda a Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus.

Ou seja: quatro grandes igrejas neopentecostais do Brasil têm a mesma raiz — a Universal de Edir Macedo.

Um modelo de igreja baseado em cisões e carisma pessoal

Diferente das igrejas históricas ou tradicionais, essas novas denominações não nasceram de um movimento teológico profundo, mas sim de conflitos de liderança, disputas internas e interesses de poder. Há uma clara ênfase na figura do “ungido”, do “homem de Deus”, como se ele fosse intocável — algo bem distante do padrão apostólico do Novo Testamento.

Jesus, ao contrário, ensinou que “o maior entre vós seja como o menor, e quem governa seja como quem serve” (Lucas 22:26). Paulo, mesmo com toda sua autoridade apostólica, se apresentava como “servo de Cristo” (Romanos 1:1), jamais como um “celebridade da fé”.

Doutrinas questionáveis e práticas místicas

Uma das marcas do neopentecostalismo é a ênfase exagerada na teologia da prosperidade: “se você está com Deus, você vai prosperar; se não prospera, é porque está em pecado ou falta fé”. Isso transforma o Evangelho em um produto de mercado — uma fé utilitária que busca bênçãos, mas não se preocupa com a cruz.

Além disso, essas igrejas promovem práticas que beiram o misticismo e o sincretismo religioso: distribuição de sabonetes ungidos, sal grosso, rosas benzidas, óleos consagrados, entre outros objetos “sagrados” vendidos como instrumentos de libertação.

Entretanto, a Bíblia é clara ao dizer que “a nossa vitória vem do Senhor” (Salmos 20:7) e não de objetos. O apóstolo Paulo adverte contra esse tipo de religiosidade quando afirma que muitos têm “aparência de piedade, mas negam o seu poder” (2 Timóteo 3:5).

O risco do evangelho antropocêntrico

Outro ponto comum entre essas igrejas é a pregação centrada no homem e não em Cristo. A mensagem é baseada no “você pode”, “Deus vai te exaltar”, “receba sua vitória agora”, como se o Evangelho fosse um manual de autoajuda com um toque espiritual.

Mas o verdadeiro Evangelho é Cristocêntrico. Paulo não pregava a si mesmo, mas “a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Coríntios 2:2). E é exatamente isso que falta em muitos púlpitos neopentecostais: a cruz, o arrependimento, a salvação, a santidade.

Teólogos e pensadores cristãos já alertavam

Nomes como Russell Shedd, Augustus Nicodemus, Hernandes Dias Lopes e Martyn Lloyd-Jones já advertiam que o maior perigo da igreja moderna não é a perseguição externa, mas a corrupção interna do evangelho.

O teólogo John Stott dizia que “o maior inimigo da fé cristã não é o ateísmo, mas o falso evangelho que engana milhões com meias verdades”.

Conclusão: onde está o verdadeiro evangelho?

É inegável que muitas pessoas encontraram consolo, libertação e esperança nessas igrejas. Deus pode usar qualquer contexto para alcançar os corações. Mas isso não nos isenta de analisar à luz das Escrituras aquilo que está sendo pregado. A fé cristã não pode ser moldada por interesses pessoais, marketing ou carisma humano.

A Igreja de Cristo precisa voltar ao essencial: a Palavra, a Cruz, a Graça e o Discipulado.

Que Deus nos dê discernimento para não confundir sucesso com unção, carisma com caráter, e movimento com avivamento. Como disse Jesus:

“Pelos frutos os conhecereis.” (Mateus 7:16)

Pastor Luciano Gomes, teólogo.

Postar um comentário

0 Comentários