Cristão pode pular fogueira? Fé, cultura e o São João à luz da Bíblia

Chegou o mês de junho. O cheiro de milho cozido, fogueira, amendoim, bandeirolas coloridas e forró já tomam conta das ruas, escolas, comércios e até mesmo algumas igrejas. Para muitos, é tempo de celebrar a cultura nordestina e resgatar tradições populares que resistem ao tempo. Mas a pergunta que muitos cristãos fazem todos os anos também voltou à tona: O cristão deve ou não participar das festas juninas? É pecado comemorar o São João?
Antes de tudo, é importante entender a origem dessas celebrações e o seu significado dentro da cultura brasileira.

A origem das festas juninas no Brasil

As festas juninas têm raízes antigas na Europa, especialmente em países católicos como Portugal, onde eram celebradas em honra a três santos: Santo Antônio (13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho). Essas festas chegaram ao Brasil com os colonizadores portugueses, sendo rapidamente incorporadas à nossa cultura, especialmente no Nordeste.

No contexto nordestino, as festas juninas ganharam força como uma forma de agradecimento pelas colheitas, marcadas por muita dança, comidas típicas, roupas de caipira e religiosidade popular. No sertão, o São João é mais do que uma festa: é um símbolo de resistência cultural.

E o São João? Que João é esse?

A festa de São João homenageia João Batista, primo de Jesus, que viveu uma vida de simplicidade no deserto, pregando arrependimento e preparando o caminho para o Messias. Foi ele quem batizou Jesus no rio Jordão, e mais tarde foi preso e decapitado por ordem de Herodes.
Mas será que João Batista ficaria feliz em ser homenageado com fogueiras, danças e superstições? Essa é uma pergunta que nos leva ao ponto teológico da reflexão.

O que a Bíblia diz?

A Bíblia não fala diretamente sobre festas juninas, mas ela nos orienta sobre idolatria, práticas pagãs e sobre manter nossa mente e coração voltados para aquilo que agrada a Deus. Em Romanos 12:2, Paulo diz:

“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente.”

Também em 1 Coríntios 10:31 está escrito:

“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.”

A fé cristã não deve ser moldada pela cultura, mas a cultura deve ser examinada à luz da fé. Isso significa que o cristão deve ter discernimento: participar de uma festa não é errado por si só, mas tudo depende do conteúdo e da motivação.

Como deve ser o comportamento do cristão?

O cristão verdadeiro é chamado a ser sal da terra e luz do mundo (Mateus 5:13-14). Isso significa que, onde ele estiver, deve levar luz, amor e testemunho. Participar de eventos sociais e culturais não é um problema quando não há envolvimento com idolatria, bebidas, sensualidade, superstições ou elementos que desagradam a Deus.

Ir a uma festa junina na escola do filho, por exemplo, pode ser uma forma de integração familiar e social, sem que isso signifique adorar outro “santo” ou praticar coisas contrárias à fé. Porém, se houver elementos que conflitam com os princípios bíblicos, o cristão deve se posicionar com amor e sabedoria — sem condenar ninguém, mas mantendo a sua fé firme.

Respeito às tradições e à religiosidade alheia

Vivemos em um país plural, onde fé, cultura e tradições convivem lado a lado. O cristão é chamado a respeitar as pessoas, mesmo que não compartilhe de suas crenças. Em 1 Pedro 3:15 está escrito:

“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações, e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.”

Não se trata de ser “do contra” ou de demonizar tudo. Trata-se de viver com coerência, respeito e firmeza. O evangelho é amor e verdade, e ambos precisam caminhar juntos.

Conclusão

Não há problema em amar o forró, comer milho, usar camisa xadrez ou valorizar as raízes nordestinas. O que precisa ser evitado são os excessos, os exageros e as práticas que ferem os princípios da fé cristã.

Seja em junho ou em qualquer época do ano, o cristão deve ser exemplo. E isso se faz com sabedoria, equilíbrio, respeito e uma fé viva que transforma e acolhe.

Que possamos ser respeitosos com as tradições culturais, mas inegociáveis quanto à nossa fé em Cristo. Que o respeito vença o preconceito, e que o evangelho brilhe com amor em meio às bandeirinhas.

Pastor Luciano Gomes, Teólogo
Colunista do Portal Veja Aqui Agora

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