
Entre os nomes que circularam pelas cartas do apóstolo Paulo, poucos causam tanto desconforto e reflexão quanto o de Demas. Um homem que começou bem, caminhou ao lado de gigantes da fé, mas terminou como uma advertência silenciosa sobre os perigos do apego ao mundo.
Um início promissor
Demas é citado em três epístolas paulinas. Nas duas primeiras, aparece em posição de honra e confiança:
“Saúdam-te Epafras, meu companheiro de prisão por Cristo Jesus, Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores.” (Filemom 1:23-24)
“Saúda-vos Lucas, o médico amado, e Demas.” (Colossenses 4:14)
Estava no círculo íntimo do apóstolo Paulo. Cooperava na missão e participava das viagens e lutas ministeriais. Seu nome estava entre homens comprometidos, como Marcos e Lucas. Tudo indicava que sua trajetória seria marcante. No entanto, algo mudou.
A amarga ruptura
Na última carta de Paulo, já no fim de sua carreira, aparece um lamento profundo e doloroso:
“Demas me desamparou, tendo amado o presente século, e foi para Tessalônica…”
(2 Timóteo 4:10)
A frase “amando o presente século” revela mais do que uma simples ausência física. É a denúncia de uma escolha: Demas trocou a missão pela comodidade, trocou o risco da fé pela segurança do mundo, abandonando Paulo no momento mais crítico de sua vida.
➤ William Barclay, ao comentar esse texto, afirma:
“O nome de Demas tornou-se um símbolo trágico. Ele era um homem que começou bem, mas não teve a coragem de perseverar até o fim. Seu amor ao mundo venceu sua devoção a Cristo.”
➤ John Stott também observa:
“Demas preferiu o conforto de Tessalônica ao custo da fidelidade. É possível que não tenha se tornado um inimigo da fé, mas se tornou irrelevante para o Reino.”
Por que Tessalônica?
A cidade de Tessalônica era próspera, estratégica, cheia de oportunidades comerciais e sociais. Para alguém cansado das lutas missionárias e prisões, talvez Tessalônica fosse um refúgio conveniente. Mas o problema não está na cidade em si, e sim no motivo da ida: “amando o presente século”.
➤ Hernandes Dias Lopes comenta:
“O coração de Demas foi conquistado pelo mundo. Ele abandonou o campo de batalha espiritual para se refugiar no conforto do secularismo. Sua história é um alerta para todos nós: é possível estar no ministério e não ter o coração totalmente no altar.”
A Bíblia cala sobre seu fim
Não sabemos se Demas se arrependeu. Ele desaparece das Escrituras. Sua história termina abruptamente com essa nota de abandono. E talvez esse silêncio seja proposital: para que cada um de nós reflita sobre onde está nosso coração.
“Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Mateus 6:21)
Aplicações espirituais para os dias de hoje Não basta começar bem
Demas começou ao lado de Paulo, mas não terminou com ele. O Evangelho é uma corrida de resistência, não de velocidade. Muitos se empolgam no início, mas desistem no caminho.
“Mas aquele que perseverar até o fim será salvo.”
(Mateus 24:13) O mundo ainda seduz
O “presente século” continua oferecendo conforto, status, fama e prazeres. Muitos líderes têm trocado o altar pela plataforma do sucesso. Demas continua sendo um espelho.
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há…”
(1 João 2:15)Podemos ser Demas ou ser fiéis
A decisão está nas nossas mãos. Seremos lembrados como cooperadores fiéis como Lucas, ou como os que abandonaram o chamado, como Demas?
“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (2 Timóteo 4:7)
Conclusão
Demas é o tipo de personagem que a Bíblia nos apresenta para nos prevenir de nós mesmos. Ele estava lá, no centro da missão, ao lado do maior apóstolo da igreja primitiva, mas se perdeu pelo caminho. Que Deus nos livre de um fim semelhante.
Como disse Hernandes Dias Lopes:
“É melhor morrer no campo da batalha do que viver longe da presença de Deus no conforto de Tessalônica.”
Que o nosso nome não esteja entre os que abandonaram a cruz, mas entre os que, com lágrimas e fidelidade, seguiram até o fim.
Pastor Luciano Gomes,
teólogo e colunista do portal Veja Aqui Agora
e do blog Crescimento Espiritual.
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