
Em Filipenses 2:5, o apóstolo Paulo nos convida a algo profundamente transformador: “Seja o modo de pensar de vocês o mesmo de Cristo Jesus”. Em um mundo marcado por orgulho, competição e busca incessante por reconhecimento, essa exortação soa como um convite a nadar contra a corrente. Mas afinal, o que Paulo realmente quer dizer? É apenas um conselho moral, ou há algo mais profundo e espiritual por trás desse chamado à humildade?
Neste artigo, vamos explorar o sentido desse versículo no contexto das cartas paulinas e à luz das Escrituras, trazendo também reflexões de teólogos que ajudam a iluminar a riqueza desse ensinamento.
O contexto de Filipenses 2
Para entender bem, precisamos olhar o que Paulo estava tratando no capítulo. Ele escreve à igreja de Filipos incentivando-os à unidade, ao amor mútuo e à humildade:
“Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos.” (Filipenses 2:3, NVI)
O apóstolo não está apenas preocupado com comportamentos exteriores, mas com o estado interior do coração. E para ilustrar o que ele quer dizer, ele aponta para o maior exemplo de todos: Cristo.
O que significa “ter o mesmo modo de pensar de Cristo”?
Quando Paulo fala para termos o mesmo modo de pensar (no grego, phroneō, que significa disposição interior, atitude), ele não está dizendo que devemos ser iguais a Jesus em Sua divindade, mas em Seu caráter. Isso envolve:
Humildade voluntária: Jesus, mesmo sendo Deus, não se apegou a isso, mas esvaziou-se e assumiu a forma de servo (Filipenses 2:6-7).
Obediência radical: Ele foi obediente até à morte, e morte de cruz (versículo 8).
Entrega pelos outros: Sua vida foi voltada para cumprir a vontade do Pai e para salvar os homens, não para buscar glória própria.
O contraste com o pensamento humano
O teólogo John Stott observa que “o orgulho é a essência do pecado, e a humildade, a essência da santidade”. Enquanto a lógica do mundo diz “suba, conquiste, domine”, Jesus escolheu descer, servir e se humilhar por amor.
Agostinho, no século IV, reforçava: “A imitação de Cristo começa pela humildade, pois quem não se humilha não O pode seguir.”
O chamado prático para a Igreja hoje
Paulo não está dando um conselho apenas para indivíduos, mas para toda a comunidade cristã. Ele propõe uma nova forma de viver juntos, onde:
Líderes servem com simplicidade, sem buscar reconhecimento.
Membros cuidam uns dos outros com amor e paciência.
A glória é sempre direcionada a Deus, nunca ao homem.
Ligação com Efésios e outras cartas paulinas
Esse tema não aparece só em Filipenses. Em Efésios 4:2, Paulo escreve:
Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor.
E em Romanos 12:3 ele exorta:
Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado.
Ou seja, para Paulo, pensar como Cristo significa viver de forma que a comunidade cristã seja saudável, madura e cheia do Espírito.
Conclusão: Um convite à transformação
Pensar como Cristo não é apenas um ideal bonito; é uma revolução interior que transforma nossos relacionamentos, nossas igrejas e nosso testemunho no mundo. Quando deixamos que a humildade e o amor de Jesus moldem nossas atitudes, nos tornamos reflexo vivo d’Ele na terra.
O chamado de Paulo não é um peso impossível. É um convite para viver guiado pelo Espírito Santo, que nos dá poder para deixar o orgulho e abraçar uma vida de serviço, amor e entrega.
Aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. (Mateus 11:29)
teólogo e colunista do portal Veja Aqui Agora
e do blog Crescimento Espiritual.
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