Quem perseguiu os cristãos primeiro? A verdade sobre o início da perseguição à igreja


Quando falamos sobre perseguição à Igreja, muitos logo pensam no Império Romano lançando cristãos aos leões, incendiando-os em postes ou jogando-os em arenas para divertimento do povo. E, de fato, isso aconteceu. Mas o que poucos sabem — e o que muitos esquecem — é que os primeiros a perseguirem os cristãos foram seus próprios irmãos de fé: os judeus religiosos da época. Isso mesmo. A perseguição começou dentro de casa.

A perseguição começou com os próprios judeus

Logo após a ressurreição de Jesus, os discípulos começaram a anunciar com ousadia que Ele era o Messias prometido. Esse anúncio gerou profunda rejeição por parte do Sinédrio, os líderes religiosos judeus. Em Atos 4, vemos Pedro e João sendo presos por pregarem no nome de Jesus. Em Atos 5, os apóstolos são açoitados. No capítulo 7, ocorre o apedrejamento de Estêvão, o primeiro mártir cristão. Um dos que aprovava sua morte era um jovem fariseu chamado Saulo, que mais tarde se converteria e se tornaria o apóstolo Paulo.

“E Saulo consentia na sua morte. Naquele dia levantou-se grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judeia e Samaria.” (Atos 8:1)

Aqui temos a primeira diáspora cristã. A perseguição forçou os crentes a deixarem Jerusalém e levarem o Evangelho para outras regiões — e isso, no plano de Deus, contribuiu para o avanço da missão.

A diáspora que espalhou o Evangelho

A palavra diáspora vem do grego e significa dispersão. Essa dispersão não foi resultado de estratégias missionárias planejadas, mas sim de uma fuga por sobrevivência. Porém, onde quer que fossem, os cristãos pregavam. Em pouco tempo, a mensagem chegou à Samaria, Cesareia, Antioquia e, posteriormente, ao mundo gentílico. Em Atos 11:26, é em Antioquia que os discípulos de Jesus passam a ser chamados de “cristãos”.

Mesmo em meio à dor, o Evangelho floresceu. Como dizia Tertuliano, escritor cristão do século II:

“O sangue dos mártires é a semente dos cristãos.”

Quando Roma começa a perseguir?

Durante os primeiros anos, Roma via o cristianismo apenas como mais uma vertente do judaísmo, e o judaísmo era uma religião permitida no Império. No entanto, com o crescimento do número de convertidos entre os gentios e a independência progressiva da fé cristã em relação à sinagoga, Roma passou a perceber o cristianismo como uma religião distinta — e perigosa.

Foi no ano 64 d.C., sob o reinado de Nero, que a perseguição romana começou de fato. Após o grande incêndio de Roma, o imperador culpou os cristãos para desviar a atenção de sua própria responsabilidade. O historiador romano Tácito registrou:

“Para acabar com o boato, Nero procurou culpados e infligiu as mais refinadas torturas àqueles que o povo chamava de cristãos. […] Alguns foram costurados em peles de animais e devorados por cães, outros foram crucificados ou queimados vivos.” (Anais, XV, 44)

A partir daí, a perseguição se tornou política e sistemática. Não era mais apenas uma questão religiosa interna dos judeus, mas uma ameaça ao culto imperial, à ordem e à autoridade de Roma.

O que diz a História da Igreja?

O historiador cristão Eusébio de Cesareia, considerado o pai da história eclesiástica, escreveu no século IV sobre as perseguições. Em sua obra História Eclesiástica, ele relata com detalhes a dor e a coragem dos cristãos nos primeiros séculos:

“Alguns morreram sob açoites, outros foram queimados, outros crucificados, e muitos lançados às feras. A fé em Cristo, porém, não foi destruída; ao contrário, fortaleceu-se ainda mais.” (Hist. Ecl., Livro V)

Eusébio também aponta que, durante os reinados de imperadores como Domiciano, Trajano, Marco Aurélio e Diocleciano, houve ondas sucessivas de perseguição.

O que a arqueologia nos mostra?

A arqueologia também confirma esses relatos. Catacumbas cristãs em Roma revelam inscrições como “Pax tecum” (paz esteja contigo), e símbolos como o peixe (Ichthys), a âncora e o bom pastor. Esses sinais representavam a fé secreta, vivida nas sombras por causa do medo da perseguição.

Além disso, descobertas de cartas e documentos como as Cartas de Plínio, o Jovem (111 d.C.), endereçadas ao imperador Trajano, mostram que os cristãos eram interrogados, ameaçados e, se não negassem a fé, executados.

Quadro cronológico das principais perseguições cristãs
Ano Imperador Romano Descrição da Perseguição
64 d.C. Nero Primeira perseguição oficial após o incêndio de Roma; cristãos servem de tochas humanas.
81–96 Domiciano Perseguição por não adorarem o imperador; exílio de João em Patmos.
98–117 Trajano Cristãos perseguidos se não negassem a fé; perseguição moderada mas constante.
161–180 Marco Aurélio Martirizados Justino, Policarpo e muitos outros; perseguição filosófica e cívica.
249–251 Décio Primeira tentativa sistemática de exterminar o cristianismo no império.
284–305 Diocleciano Perseguição mais violenta e abrangente da história da Igreja primitiva.
313 Édito de Milão (Constantino) Liberdade religiosa concedida; fim das perseguições legais aos cristãos.

Conclusão: a perseguição começou de dentro

A história da Igreja nos mostra que a perseguição ao cristianismo começou dentro do próprio judaísmo, por líderes religiosos que não aceitaram a mensagem do Messias. Depois, Roma entrou na história com sua brutalidade e perseguição sistemática. Mas o que os perseguidores não entenderam é que quanto mais oprimiam, mais a fé se espalhava.

Essa história nos ensina que nem sempre os ataques vêm de fora. Muitas vezes, vêm de dentro, de quem deveria estar do nosso lado. Mas também nos mostra que nenhuma perseguição é maior que o poder de Deus. A Igreja sobreviveu ao Sinédrio, ao Coliseu e ao Império Romano. E permanece viva até hoje.

“E sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mateus 16:18)

Pastor Luciano Gomes,
teólogo e colunista do portal Veja Aqui Agora
e do blog Crescimento Espiritual.

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