Entre a cruz e o sincretismo: Uma resposta apologética ao discurso evangélico sobre sexualidade e entidades espirituais.

O Brasil é um dos países mais religiosos do mundo, mas também um dos mais sincréticos. Aqui, mesmo no meio evangélico, é comum encontrar pregadores que, ao falar sobre questões espirituais e sexuais, utilizam termos de religiões afro-brasileiras como “pombagíria menina” ou “espírito de pombagíria”. Para muitos, isso parece apenas uma forma de se comunicar com clareza, mas do ponto de vista teológico e apologético, há sérios problemas.

O fundamento bíblico e a contaminação de conceitos

A Palavra de Deus nos dá todos os elementos necessários para compreender a batalha espiritual: Satanás, demônios, potestades, principados, espíritos enganadores (Efésios 6:12; 1 Timóteo 4:1). Em momento algum a Bíblia recorre a nomes de entidades de outras tradições para definir a natureza ou a área de atuação desses espíritos.

Quando o crente usa termos como “pombagíria”, está importando para dentro da pregação conceitos de outra cosmovisão. Isso cria dois riscos:

Teológico – A mensagem perde pureza doutrinária, pois mistura revelação bíblica com nomenclaturas e mitos externos à fé cristã.
Espiritual – O nome dessas entidades carrega significado dentro de outra religião. Ao pronunciá-lo, mesmo para combater, o crente pode estar reforçando sua existência no imaginário coletivo, desviando o foco da autoridade de Cristo.

Por que isso é um erro apologético

A apologética cristã defende a fé a partir das Escrituras. Ao adotarmos termos que vêm de religiões afro-brasileiras, estamos cedendo terreno na linguagem, aceitando que a narrativa espiritual seja contada usando categorias que não vêm de Deus.

Jesus e os apóstolos nunca precisaram recorrer a nomes de entidades pagãs para pregar libertação. Eles expulsavam demônios no nome de Jesus, e isso bastava (Marcos 16:17; Atos 16:18). Se a cruz é suficiente para destruir as obras do diabo (1 João 3:8), não precisamos vestir o evangelho com roupas emprestadas do sincretismo.

A questão da sexualidade e o estigma

Ao relacionar a homossexualidade ou outros pecados sexuais diretamente a uma “pombagíria”, o pregador não apenas se afasta do modelo bíblico, mas também estigmatiza pessoas. A Bíblia já aponta que a prática homossexual é contrária ao propósito de Deus (Romanos 1:26-27; 1 Coríntios 6:9-11), mas também revela que qualquer pecador pode ser lavado, santificado e justificado em Cristo.

A apologética não se limita a dizer “isso é pecado”; ela também mostra o caminho bíblico para a libertação. Esse caminho não passa por invocar nomes de entidades, mas por anunciar o poder do arrependimento e da fé no evangelho.

Caminho bíblico para um discurso puro

Usar apenas linguagem bíblica – Ao tratar de batalha espiritual, cite termos que a Escritura usa, preservando a pureza da mensagem.
Apontar para Cristo como solução única – Libertação não vem de rituais, palavras mágicas ou identificação de “entidades específicas”, mas da autoridade absoluta de Jesus.
Manter firmeza com compaixão – É possível confrontar o pecado sem demonizar pessoas, lembrando que fomos chamados para ser embaixadores da reconciliação (2 Coríntios 5:18-20).

Conclusão apologética

Misturar a cruz com o sincretismo é como tentar purificar água usando um filtro contaminado: o resultado sempre será impuro. O pregador fiel deve se apegar à Palavra e rejeitar qualquer influência conceitual que tire o foco da suficiência de Cristo.

O evangelho não precisa de “pombagírias” para explicar a imoralidade sexual. Precisa apenas de Bíblia, arrependimento e o poder transformador do Espírito Santo. Tudo o que não vem dessa base, por mais bem-intencionado que seja, enfraquece a defesa da fé e confunde o rebanho.

Pastor Luciano Gomes
Teólogo e Colunista do Portal Veja Aqui Agora

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