
Muitas vezes falamos sobre “ser salvo” como se fosse apenas “ir para o céu” ou “escapar do inferno”. Mas a questão essencial permanece: salvos de quê?
Para compreender plenamente a salvação, é preciso olhar para trás, para o Éden, e entender o que se perdeu.O homem no Éden: comunhão perfeita
No princípio, Deus criou o homem para viver em comunhão com Ele. O texto bíblico relata:
“E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia” (Gênesis 3:8).
Não havia barreiras. Não existia medo, culpa ou morte. O homem era livre do pecado e da condenação, vivendo sob a perfeita harmonia do Criador.A ruptura: o pecado e suas consequências
Quando Adão e Eva desobedeceram, introduziram o pecado no mundo, causando separação espiritual entre Deus e o homem. Paulo afirma:
“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23).
Essa separação não pegou Deus de surpresa. Como afirma Wayne Grudem em Teologia Sistemática (p. 568):
“Deus, em Sua onisciência, já conhecia a Queda antes que ela acontecesse, e já havia determinado um plano de redenção em Cristo.”A promessa messiânica
Ainda no Éden, Deus anuncia o Seu plano:
“E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça” (Gênesis 3:15).
Este é o Protoevangelho — a primeira boa nova — onde Deus promete que o descendente da mulher esmagará a serpente, apontando para Cristo.
Matthew Henry comenta:
“Aqui vemos a primeira revelação do Evangelho, um raio de esperança lançado sobre a noite da queda.”Salvos de quê?
A salvação nos liberta da condenação eterna (João 3:16-18), do domínio do pecado (Romanos 6:14) e da separação de Deus (Efésios 2:12-13).
John Stott, em A Cruz de Cristo (p. 89), diz:
“O pecado é o maior problema da humanidade, e a salvação é a maior necessidade. O Evangelho é Deus intervindo para resolver essa tragédia.”A descida de Cristo ao Hades
Quando Jesus morre, Ele “desceu às regiões inferiores da terra” (Efésios 4:9).
Na cosmovisão judaica, o Sheol (hebraico) ou Hades (grego) era o “mundo dos mortos”, com dois compartimentos:
Seio de Abraão (Lucas 16:22) — lugar de repouso para os justos.
Lugar de tormento (Lucas 16:23) — para os ímpios.
Pedro declara:
“Cristo… foi e pregou aos espíritos em prisão” (1 Pedro 3:19).
Segundo Herman Bavinck (Dogmática Reformada, vol. 3, p. 434), essa “pregação” não foi para dar uma segunda chance aos ímpios, mas para proclamar a vitória de Cristo e libertar os justos que aguardavam a consumação da promessa.Libertação dos justos
Paulo escreve que Cristo “levou cativo o cativeiro” (Efésios 4:8), indicando que Ele transferiu os justos do “Seio de Abraão” para o Paraíso celestial.
Assim, desde a cruz, quem morre em Cristo não vai mais ao Sheol, mas imediatamente à presença do Senhor (2 Coríntios 5:8; Filipenses 1:23).Salvação hoje: presente e futuro
A salvação é uma obra completa que envolve:Justificação — Deus nos declara justos (Romanos 5:1).
Regeneração — nascemos espiritualmente (João 3:3-5).
Santificação — vivemos uma nova vida (1 Tessalonicenses 4:3).
Glorificação — receberemos corpos incorruptíveis (1 Coríntios 15:52-53).
John MacArthur explica:
“A salvação não é apenas um ato passado, mas um processo presente e uma promessa futura.”Conclusão
A salvação é o resgate do homem da condenação eterna e sua reconciliação com Deus. É o cumprimento do plano divino estabelecido antes da fundação do mundo (Efésios 1:4-5).
Jesus não veio apenas para “nos levar ao céu”, mas para restaurar a comunhão perdida no Éden e nos dar vida abundante agora e para sempre.
“E esta é a vida eterna: que te conheçam a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3).
Por Pastor Luciano Gomes, teólogo e colunista do portal
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