Cadê o Cajado, Pastor?


A ausência da correção bíblica na liderança pastoral e os perigos de uma geração sem disciplina espiritual
Vivemos dias em que a liderança pastoral tem se tornado, em muitos casos, uma função decorativa. O título de “pastor” está cada vez mais associado à figura simpática e acolhedora, mas, em muitos casos, desconectada de sua verdadeira missão: cuidar, corrigir e conduzir o rebanho com firmeza e fidelidade à Palavra de Deus.

A pergunta que não quer calar é: cadê o cajado, pastor? Onde foi parar o instrumento simbólico e prático que define o papel do pastor de ovelhas? O que se vê é uma geração de líderes que, ou por medo, ou por conveniência, ou por comodismo, deixou o cajado de lado e abraçou uma liderança passiva, omissa e muitas vezes conivente com o erro.

O que representa o cajado nas Escrituras?

Na cultura pastoril de Israel, o cajado não era apenas uma peça de madeira: era a extensão da autoridade e do zelo do pastor. Com ele, o pastor guiava as ovelhas, tirava-as do perigo, corrigia aquelas que insistiam em se desviar e protegia o rebanho dos predadores. O cajado era símbolo de ação e responsabilidade.

O Salmo 23 declara:

“Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.” (Salmo 23:4)

Sim, o consolo não vem apenas do afago, mas também da correção. Quando o pastor deixa de corrigir, ele também deixa de amar com profundidade. A correção é uma expressão de cuidado — e não de rejeição.

 Pastores que “passam pano” para o pecado

Infelizmente, muitos pastores têm se acovardado diante do pecado das ovelhas. Preferem o silêncio à confrontação. A paz aparente à disciplina genuína. O conforto do púlpito ao peso da responsabilidade de admoestar.

Há líderes que dizem: “Deus trata, eu não me meto”, como se não fossem exatamente chamados para ser instrumentos de Deus no tratamento do rebanho. Há ovelhas que estão em adultério, desonestidade, contenda, vaidade espiritual — e os pastores, por medo de perder membros ou ofertas, calam-se.

Mas a Palavra é clara:

“Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina.” (2 Timóteo 4:2)

Jesus: o modelo de pastor que usava o cajado com firmeza

Nosso Senhor Jesus Cristo, o Bom Pastor, não foi omisso. Ele corrigiu Pedro (Mateus 16:23), repreendeu cidades (Mateus 11:21), confrontou os hipócritas (Mateus 23) e purificou o templo com um chicote (João 2:15). Amor e firmeza não são opostos — são aliados no cuidado verdadeiro.

Ser pastor é ter coragem de dizer o que precisa ser dito. É agir como Jesus agia. E Jesus não passava pano para o erro.

O pastor tímido ou omisso contribui para a ruína do rebanho

A Bíblia fala de pastores que, ao invés de curar o povo, maquiavam os pecados com discursos suaves. O profeta Jeremias denunciou isso com veemência:

“Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.” (Jeremias 6:14)

Não podemos esquecer que o verdadeiro amor adverte. Pais que amam corrigem. Pastores que amam disciplinam. A omissão é um pecado grave que, em nome da paz, promove a perdição.

Quando falta cajado, sobra confusão

A ausência de autoridade espiritual nas igrejas produz comunidades desgovernadas, onde cada um faz o que quer, como nos dias dos juízes:

“Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos.” (Juízes 21:25)

Quando o cajado não é usado, os lobos têm liberdade para agir, as ovelhas se perdem e a doutrina é relativizada. O rebanho precisa de voz profética, ensino fiel e liderança ativa.

O cajado é para guiar, proteger e corrigir

O pastor verdadeiro não usa o cajado com brutalidade, mas também não o esconde por timidez. Ele guia, ensina, protege e disciplina com amor. Ele entende que a repreensão, quando feita com sabedoria, restaura, edifica e produz frutos de justiça:

“Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho.” (Hebreus 12:6)

Conclusão: é hora de tomar o cajado de volta!

O ministério pastoral exige coragem. Coragem para dizer “não”, para confrontar o erro, para chamar o pecado pelo nome, mesmo que doa. O povo de Deus precisa de pastores com voz, com posição, com direção bíblica — não de líderes neutros e omissos.

Que os verdadeiros pastores desta geração voltem a empunhar o cajado com humildade, firmeza e temor ao Senhor. Que não se escondam atrás de discursos suaves, mas que se posicionem como atalaia do povo.

Porque pastor sem cajado é apenas um título. E um rebanho sem correção, cedo ou tarde, se dispersa.

Pastor Luciano Gomes,
teólogo e colunista do portal Veja Aqui Agora
e do blog Crescimento Espiritual.

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